
Mudar hábitos alimentares é uma tarefa difícil para nós que trabalhamos com nutrição. As dietas da moda têm resultados de curta duração e quem as a segue, muitas vezes acaba frustrado pelas restrições ou dificuldades práticas. Quando se trata de modificar os hábitos alimentares de uma família, o desafio costuma ser ainda maior, pois temos que ter soluções que atendam as necessidades nutricionais de todos os seus membros.Agora, um novo ramo de estudos, a Gastrofísica, nos ajuda a reforçar alguns conceitos simples. Este é o tema de um artigo publicado recentemente pelo jornal inglês The Guardian.
A Gastrofísica é um tipo de ciência, por assim dizer, dedicada a pesquisar os sabores dos alimentos e como eles se combinam para criar uma melhor percepção do gosto. É uma disciplina que reúne, ao mesmo tempo, profissionais de várias disciplinas como psicólogos,neurocientistas,especialistas em marketing e economia.

Esta equipe de especialistas não estuda apenas o gosto dos alimentos, mas sim o seu sabor, porque, tecnicamente, o gosto só acontece na língua, enquanto o sabor é parte de um efeito mais global para a pessoa. O que estes cientistas querem estudar é como os alimentos interagem para determinar o modo como percebemos os sabores. A partir daí podemos usar pequenos truques para “enganar” o nosso cérebro e induzir-nos a uma maior saciedade. Vamos a alguns truques:
- Enganando o seu cérebro
Há algumas mudanças simples que você pode fazer e que podem ter um efeito profundo sobre a sua saciedade. As pesquisas mostram que o uso de louças menores tende a levar o nosso cérebro a acreditar que estamos comendo mais, um fenômeno psicológico que pode ser melhor ilustrado dando uma olhada na ilusão de óptica Delboeuf.

A ilusão de Delboeuf é uma ilusão ótica da percepção do tamanho relativo.Na sua versão mais conhecida , dois círculos de tamanho idêntico são colocados lado a lado e um é circundado por círculo externo. O círculo circundado parecerá maior que o não circundado se o círculo externo estiver próximo e menor se o anel externo estiver mais afastado.

Se você colocar duas porções idênticas de comida em um prato grande e em um prato pequeno, a porção no prato maior vai parecer menor, e vice-versa: o nosso cérebro não pode deixar de ser enganado por este efeito, mesmo quando sabemos que elas são iguais.

Também sabemos que servir a comida em uma pote, em lugar de um prato, pode dar a sensação de há um maior volume, mais uma vez enganando nosso cérebro e levando-o a pensar que há mais lá do que é realmente é o caso.
Uma pesquisa mais recente mostra ainda que o peso de talheres e pratos tem também um efeito significativo sobre o apreço para com as refeições que comemos; pratos, facas e garfos mais pesados oferecem maiores níveis de saciedade.
Qual a conclusão ? Sirva suas refeições em pequenas tigelas pesadas e use talheres também pesados para comer !
2. Torne difícil o ato de comer

Isto pode parecer um pouco ridículo, mas as pesquisas mostram que, se somos forçados a comer com uma mão não dominante vamos geralmente consumir menos. Mas isso não quer dizer que, necessariamente você vai ter que tornar a sua experiência de comer menos agradável. Tente usar outras maneiras criativas para interagir com o seu alimento, como o uso de colheres de sopa japonesas para tomar a sopa, ou pauzinhos para outros tipos de alimentos – qualquer coisa, de fato, que o impeça de simplesmente por a comida rapidamente em sua boca. Alimentação consciente é a chave aqui.

3. Nada de comer em frente à TV
Nós acabamos de mencionar atenção e parece que este é um dos principais contribuintes para o quão bem e quanto nós comemos. As pesquisas mostram que consumimos cerca de 30% a mais quando estamos envolvidos em outras atividades, como assistir televisão.
Tais distrações estão se tornando muito mais comuns na mesa de jantar. Na verdade, muitas pessoas nem sequer usam o espaço reservado para o jantar em casa, preferindo comer em frente à TV, ou enquanto usa smartphones . No entanto, checar mensagens e atualizar a sua rede social são maneiras infalíveis de garantir que você não está focado no alimento que você está comendo; você vai aprecia-lo menos, o que inevitavelmente resulta em redução de saciedade e ao cometimento de excessos.

Assim, o conselho aqui é para desligar a TV, coloque o telefone a carregar no outro quarto e sente-se em uma mesa de jantar para desfrutar plenamente a sua refeição.
4. Use todos os seus sentidos para comer:
Uma alimentação multissensorial nos faz comer, reforçando simultaneamente a outros sentidos, como olfato ou visão. Mas por multissensorial se entende mais do que isso. A ideia é ajudar as pessoas a ser verdadeiramente conscientes dos pratos a que eles são apresentados.Em casa, isso pode ser tão simples como, antes de comer cheirar sua comida e realmente apreciar os aromas. (Muitos pesquisadores acreditam que até 90% do que percebemos como o sabor vem do nosso sentido de cheiro.)

Segurar uma taça quente em sua mão também ajuda, assim como mastigar adequadamente (sua mãe estava certa …) e exalar enquanto você mastiga – o que estimula os receptores olfativos e aumenta ainda mais o sabor dos alimentos.

Finalmente, o foco na textura. É interessante notar que nós consumimos menos calorias quando comemos maçãs do que quando comemos purê de maçã, e menos calorias com purê de maçã do que o suco de maçã, porque nós temos mais informações sensitivas do purê do que do suco, e mais ainda da maçã real. Em outras palavras, nossos cérebros usam a quantidade de sensação que recebemos a partir da textura como uma das pistas para nos dizer quando parar de comer.
Viu, é bem fácil enganar o nosso cérebro, não é mesmo?
Este post foi largamente inspirado na tradução do artigo:How to trick your brain into healthy eating disponível em The Guardian
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