Pode ? Glutamato monossódico ?

Glutamato monossódico | Cozinha Técnica

Tendo lido uma postagem hoje no site Lifestyle, que alertava para os riscos no consumo do glutamato monossódico (GMS), nos levou a pesquisar mais sobre o assunto. Assim sendo, fomos ao Google Acadêmico, selecionamos alguns trabalhos, dos quais destaco o exibido abaixo e chegamos a algumas conclusões. Vamos a elas.

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  • O GMS é um realçador de sabor largamente utilizado pela indústria alimentícia.
  • Ele é derivado do l-ácido glutâmico, um aminoácido presente naturalmente em vários alimentos que fazem parte da nossa dieta (ex. carnes, peixes, queijo Parmesão, queijo Roquefort, tomates, cogumelos, brócolis)
  • O GMS é usado porque possui um sabor específico – umami – considerado o quinto sabor e que aumenta a palatabilidade dos alimentos.
  • Por isto ele é frequentemente adicionado a alimentos industrializados : carnes processadas, sopas, molhos, petiscos…

10 Comidas que te deixam com fome rapidamente – Bom Jardim Notícias

A polêmica: Alguns trabalhos científicos, habitualmente realizados com roedores têm mostrado potenciais riscos à saúde:

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Com estes resultados o alarme e o medo têm sido propagados. Mas, como bem avalia o trabalho acima e outros consultados, há um problema – a metodologia utilizada nos trabalhos e sua interpretação. Embora os achados sejam importantes e mereçam consideração , nem sempre o que se acha em um experimento, com animais, pode ser extrapolado para seres humanos. As dificuldades para isto são várias:

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Além do fato de terem sido usados, exclusivamente roedores as vias de administração usadas foram, na maioria das vezes, por injeção venosa, intraperitonial ou por concentrados; as doses muitas vezes não foram precisamente determinadas, e em muitos do casos, quando o foram, ficaram bastante acima do consumo humano (quando consideradas em mg/kg de peso. Assim, não é possível transportar estas conclusões para o consumo humano.

As recomendações atuais pelo FDA (Food and Drug administration) , JECFA (Joint FAO/OMS Expert Committee on Food Additives e o European Food Safety Association (EFSA) consideram o glutamato monossódico como GRAS (Generally Recognized As Safe) ou substância geralmente reconhecida como segura. A EFSA, diante dos trabalhos apresentados reviu recentemente (2017) a segurança do GMS e o considerou seguro para um consumo numa dosagem de até 30 mg/kg/dia (uma dosagem absurdamente alta de se conseguir ingerir : 2100 mg/dia para um adulto de 70 kg)

Assim sendo, até prova em contrário: pode consumir sim alimentos ricos em GMS, lembrando que esta recomendação não se aplica a alimentos industrializados, que são também ricos em glutamato monossódico, não por causa dos glutamatos, mas por causa do ultraprocessamento  dos alimentos e seus malefícios.

Fontes citadas:

  1. Glutamato Monossódico: O que é? O tempero mais perigoso do mundo- Life Style
  2. A Review of the Alleged Health Hazards of Monosodium Glutamate. Comprehensive Reviews in Food Science and Food Safety . First published:08 May 2019. https://doi.org/10.1111/1541-4337.12448 – Acesso livre

 

Nosso Primeiro Post : Batata Frita Pode?

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No dia 26/09/2008 entrávamos na rede. Como não poderia deixar de ser o nosso primeiro post respondia à pergunta do título:

“Batata Frita Pode?

Respondendo a pergunta do blog: batata-frita pode, tudo pode, desde que seja ingerido de maneira moderada, e nunca em excesso. Um dos segredos da boa alimentação é também a moderação. “

Pode ? :Uma viagem, maçãs cruas e diarreia

Em uma viagem recente, poucas horas antes de pegar o avião de retorno para casa, minha acompanhante desenvolveu um quadro de diarreia aguda, acompanhada por vômitos e intenso mal estar. Precisávamos de uma solução urgente e eficaz para que a viagem não se tornasse insuportável. Foi então que me lembrei de ter visto, no restaurante do hotel, várias bandejas com grandes quantidades de maçãs verdes. Imediatamente me lembrei de uma antiga prática – A Cura de Maçãs Cruas – que aprendi em um livro antigo do Dr. A. da Silva Mello, médico e escritor mineiro – que relatava o tratamento em seu notável livro Alimentação – Instinto – Cultura (1956):

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“…a cura de maçãs cruas,…no tratamento das diarreias e cujos efeitos curativos, já por demais conhecidos, são por vezes verdadeiramente espantosos. Diarreias rebeldes, prolongando-se por dias, semanas, meses e até anos, depois de terem resistido aos mais intensos tratamentos e às mais rigorosas dietas, podem cessar rapidamente, em geral dentro de 24-48 horas, pelo emprego desta cura, que consiste simplesmente de maçãs raladas, comidas em abundância, durante dois a três dias seguidos, proibindo-se durante este tempo qualquer outro tipo de alimento. De regra o efeito é imediato, pois que, já nas primeiras 24 horas, a evacuação torna-se quase normal, perdendo o cheiro fecaloide…

…O tratamento com maçãs cruas é uma prática antiga, relatada desde Hipócrates. Há relatos antigos como o de Johann Diez, nascido em 1565, que declara haver salvo a própria vida comendo maçãs cruas, enquanto muitos de seus companheiros morreram da diarreia que os atacara a bordo, durante uma longa viagem de navio… Há ainda o relato de curas com outras frutas como bananas, ameixas cruas, caldo de mirtilo ou de groselha”

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Evidencias sugerem que uma dieta rica em frutas e vegetais pode diminuir o risco de doenças crônicas, como doenças cardiovasculares e câncer, devido provavelmente à presença de fitoquímicos,  incluindo fenois, flavonoides e carotenoides, além de abundante quantidade de fibras alimentares.

As maçãs são uma rica fonte de fitoquímicos e estudos epidemiológicos tem ligado o seu consumo à redução de alguns tipos de cânceres, doenças cardiovasculares, asma e diabetes. Em estudos in vitro, as maçãs têm mostrado  ter uma forte atividade  oxidante, serem capazes de inibir a proliferação de células cancerosas, diminuir o oxidação lipídica e diminuir as taxas de colesterol. Maçãs contem uma grande quantidade de fitoquímicos, incluindo quercetina, catequina, floridzina e ácido clorogênico, todos eles fortes antioxidantes.

A composição fitoquímica das maçãs varia muito entre as diferentes variedades e há também pequenas variações nos fitoquímicos durante a maturação e o apodrecimento das fruta.A estocagem tem pouco ou nenhum efeito no conteúdo de fitoquímicos das maçãs, mas o seu processamento, como em sucos, altera largamente o conteúdo e a composição dos fitoquímicos.

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A propósito: em 24 horas minha acompanhante estava assintomática e a viagem de 17 horas ocorreu sem nenhum imprevisto. Coincidência? Ou uma preciosa contribuição da medicina tradicional ?

Leitura recomendada:

  1. Apple phytochemicals and their health benefits.Jeanelle Boyer and Rui Hai Liu.
  2. Wolfe K, Wu X, Liu RH: Antioxidant activity of apple peels. J Agric Food Chem. 2003, 51: 609-614. 10.1021/jf020782a.View Article

Polêmica: Devem os restaurantes serem proibidos de colocarem os saleiros nas mesas?

A votação de uma lei, proposta à Câmara dos Vereadores de Belo Horizonte, tem causado polêmica. Teria a Prefeitura o direito de proibir os restaurantes de colocarem os saleiros em suas mesas? Precisamos antes de mais nada fazer algumas considerações:

A ingestão excessiva de sódio está associada com aumento da pressão arterial (PA) e efeitos adversos no sistema cardiovascular. Além disto, o consumo excessivo de sódio tem também sido associado, diretamente, com aumento da prevalência de doenças coronarianas, acidentes vasculares cerebrais e outras doenças não cardiológicas e com aumento da mortalidade (Veja quadro abaixo).

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Mortes relacionadas ao excesso de consumo de sal por Milhão de habitantes

(The New England Journal of Medicine)

O consumo de sódio varia largamente ao redor do mundo e também no Brasil, em diferentes regiões e populações.  No Brasil, segundo diferentes estimativas, este consumo varia de 3,0 até 6,1 g/dia (175 a 357 mmol de sódio por dia), dependendo da população estudada, sendo maior no Centro-Oeste e no Sul e menor no Sudeste. O consumo de sódio pela população brasileira excede em duas vezes os limites recomendados (2,0 g/dia de cloreto de sódio ou 85 mmol de sódio por dia). As principal fontes de consumo são o sal de adição (e os condimentos a base de sal) e os  alimentos processados, cujo consumo usualmente aumenta com a renda da população.

Apenas como curiosidade, a ingestão de sódio pelos índios Yanomami, uma das menores do mundo, é de 0,8 mmol/dia (46,8 mg/dia de cloreto de sódio) em homens e 1 mmol/dia (58,5 mg/dia de cloreto de sódio) em mulheres e o consumo dos índios do Xingu, também um dos menores do mundo, está em torno de 855 mg de cloreto de sódio por dia (50 mmol de sódio/dia).

De um modo geral a população desconhece os riscos do consumo excessivo de sal e geralmente não se dá conta de que uma grande parte deste consumo esteja escondida nas comidas industrialmente processadas. Intervenções feitas através de campanhas de saúde pública no Japão, Bélgica, Finlândia, Grã Bretanha,  e pela diminuição da adição de sal em alguns alimentos como o pão, surtiram bom  efeito, havendo diminuição do consumo médio de sal nestas populações. Existe uma preocupação extra com o consumo de sal por crianças e adolescentes.

Segundo dados da Europa e EUA, 75% do consumo de sódio vem de comidas processadas ou preparadas em restaurantes, 10-12% ocorre naturalmente nos alimentos e uma proporção similar vem do uso doméstico do sal em casa ou nas mesas de restaurantes. Já no Japão e na China a maior parte do consumo vem do  sal adicionado durante o preparo de alimentos e molhos  como o Shoyu.

Assim, acredito que o consumo de sal, em boa parte do Brasil siga o padrão europeu e americano, com o sal de adição não sendo a principal fonte, mas sendo significativo.

A simples exclusão dos saleiros das mesas dos restaurantes estaria longe de resolver o problema, mas poderia representar um primeiro e emblemático  passo para um programa que realmente estimulasse a diminuição do consumo de sal. Para isto seriam necessárias campanhas para instruir a população para os riscos do consumo excessivo, em que se mostrasse as fontes deste consumo, com ênfase no risco do consumo de alimentos processados e um estímulo para que restaurantes, indústrias e padarias usassem menos sal no preparo de seus alimentos.

 

LEITURA ADICIONAL:

  1.  Claro RM. Estimativa do consumo de sódio da população brasileira . Acessado em http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/10ee87804d1cffa7a290f64031a95fac/01-+Padr%C3%A3o+de+consumo+de+s%C3%B3dio+na+popula%C3%A7%C3%A3o+brasileira.pdf?MOD=AJPERES. Dia 25/11/2015
  2.  Brown IJ, Tzoulaki I, Candeias V e Elliott P. Salt intake around the world: implications for public health. Intern J Epidem 2009:791-813
  3.   WHO/FAO. Diet,nutrition and the prevention of chronic diseases. Report of a joint WHO/FAO expert consultation. Technical Report series 916; 2003 Geneva
  4. Mozaffarian D, Fahim S, Singh GM et al. Global Sodium Consumption and Death from Cardiovascular Causes. N Engl J Med 2014; 371:624-634

Malhar em jejum pode?

tired_runner11Na busca pela perda de gordura, treinar em jejum virou moda. O AEJ (aeróbico em jejum), implica em acordar e ir para o treino aeróbico sem comer absolutamente nada. De fato, ocorre sim uma perda de gordura, mas atenção! Não é somente a gordura que é usada como substrato de energia, o músculo também é! Isso porque para queimar gordura o nosso corpo precisa de carboidrato e em jejum você não tem este carboidrato. Eu não recomendaria um aeróbico em jejum pelo simples fato de queimar gordura pois acabamos perdendo também massa muscular, o que não é interessante e muito menos é o objetivo.

Vamos entender como tudo funciona.

A glicose é a principal fonte de energia que nosso corpo utiliza durante a atividade física e é também a única fonte de energia utilizada pelo nosso sistema nervoso. Quando fazemos a atividade física em jejum, a gordura e os músculos se tornam a principal fonte de energia utilizada pelo organismo.

Treinar em jejum pode sim aumentar a queima de gordura, mas atenção, isso só funciona a curto prazo e geralmente em indivíduos atletas. O AEJ não pode extrapolar 30 minutos, caso contrário além de perda muscular, outras consequências como náuseas, desmaios e hipoglicemias podem acontecer.

Na minha opinião trocar um treino bem nutrido por um treino em jejum não é a melhor forma de conquistar o percentual de gordura desejado. Isto porque o treino em jejum deve ser moderado e controlado, já o treino bem alimentado pode ser de alta intensidade e de melhor qualidade. Além disso, para quem se alimenta, a perda de gordura ocorre durante todo o dia, pois o corpo se adapta. No AEJ não ocorre essa adaptação, pelo contrário, o que ocorre é uma descompensação e uma maior tendência em se alimentar de forma irregular no resto do dia. – aí o porquê muitas pessoas não conseguem resultados satisfatórios com a prática do AEJ.

Enfim, esta técnica só é verdadeiramente eficaz para pessoas que estão em um nível de treinamento muito elevado, que já possuem um percentual de gordura baixo (homens menos que 10% e mulheres menos que 14%) e que estão sempre acompanhadas por profissionais que podem orientá-las para não acarretar danos à saúde.

Uma dica para quem quer ter os resultados do AEJ, sem ter que abrir mão de um bom café da manhã, é começar pela musculação e só depois partir para os aeróbicos. Assim, quando você for fazer o aeróbico, vai usar mais a gordura, imitando a situação de jejum.

Como sempre digo, não existe uma fórmula mágica, o que existe são mudanças de hábitos! Procure um nutricionista e um educador físico, o que é bom para você pode não ser bom para aquele que está do lado.

escritopor2gabriela

Posso comer isto?

sonhar-com-comidaSim, desde que seja com moderação. Parece que as pessoas simplesmente esqueceram que essa palavra existe. A maioria dos pacientes que atendo no consultório me procuram frustrados com dietas malucas totalmente baseadas em radicalismos orientados por pessoas que não possuem conhecimento suficiente para tal. A onda de blogueiras que dão dicas de como manter um corpo sarado estão deixando as pessoas cada vez mais confusas a ponto delas esquecerem a real finalidade dos alimentos.

A nutrição não envolve somente o fator físico. Claro que temos que estar de bem com o nosso corpo, mas como podemos estar de bem com ele se esquecemos como devemos nos comportar perante ao ingrediente fundamental dele? O alimento não é só algo que comemos para ter um físico deslumbrante. Antes disso ele deve ser escolhido, preparado e saboreado para que assim possa exercer sua principal função, que é nutrir o organismo fisicamente e mentalmente.

A mudança comportamental para promover os hábitos saudáveis deve ser prazerosa, mas isso hoje em dia exige do indivíduo um treino mental, porque a maioria não come somente para “matar a fome”, mas por outras inúmeras razões que buscam o prazer. A busca pelo alimento se tornou uma forma de compensar insatisfações e frustações levando a uma ingestão de alimentos descontrolada.

Aquele que consome alimentos de forma excessiva por fatores psicológicos geralmente sofre com o sobrepeso e a obesidade. Para esse indivíduo, a perda de peso envolve um trabalho de reorganização comportamental e mental, que vai muito além da sua própria força de vontade. Assim, aquele que não consegue emagrecer seguindo dicas, truques e dietas da moda, fica mais frustrado ainda resultando em mais ganho de peso, isolamento e sedentarismo – vira uma bola de neve.

Quando a mídia divulga algo bom sobre um alimento, todos saem feito desvairados para adquiri-lo (vamos lembrar de alguns aqui: goji berry, mirtilo, linhaça, tapioca, chá verde) e o mesmo acontece com o oposto. Se é publicado algum efeito negativo de um certo alimento, ele é imediatamente condenado (alguns exemplos: ovo, carne vermelha, feijão, pão). O que acontece é que o equilíbrio da alimentação foi esquecido.

Devemos comer de forma saudável sim, mas sem radicalismos. Comer um brigadeiro vez ou outra não pode? Claro que pode! Comer tapioca todo santo dia? Não, ninguém aguenta! Comer sempre o mesmo alimento com a promessa de ter um corpo escultural resulta na aversão ao alimento. Que atire a primeira pedra aquele que passou três meses comendo batata doce com frango almoço e janta e não enjoou. Tenho pacientes que não conseguem nem ouvir falar nos nomes “tapioca” e “batata doce”. Não existe um alimento ruim e um alimento bom, o que existe é o equilíbrio e a moderação.

Muitas vezes as pessoas passam por dietas radicais que proíbem inúmeros alimentos emagrecem, lógico, mas não mantém o peso. O resultado? A briga com a balança se torna permanente. O peso nunca é satisfatório e o corpo nunca é o idealizado.

Então antes de ir atrás de dietas malucas e excluir tal e tal alimento, procure um nutricionista para orientar a sua mudança não só física, mas também comportamental. A dieta não depende somente do indivíduo, mas também do ambiente que o indivíduo está.

escritopor2gabriela

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