A pergunta me foi feita pelo quase primo André Jack, e eu como bom curioso resolvi pensar no assunto. Aliás, não é a primeira vez – há mais ou menos dez anos atrás estive no CRM de MG, para tentar chegar a uma conclusão médica sobre o assunto. Não chegamos a nenhuma digna de nota na época. Hoje, já mais maduro e reflexivo, me permito a discorrer um pouco sobre o assunto. Há defesas apaixonadas de ambas as posições. Mas, como todas as defesas apaixonadas elas tendem a ser tendenciosas e pouco confiáveis.
Acho que podemos tentar pensar no assunto sobre alguns ponto de vista separados para tentar chegar a uma conclusão final.
Do ponto vista comercial e produtivo, não há dúvidas que temos que ser extremamente favoráveis ao uso de transgênicos. Aliás, do ponto de vista biológico, transgênicos não chegam a ser uma novidade absoluta na agricultura. Não seriam os enxertos, praticados há centenas de anos por agricultores de todo o mundo, transgênicos ? O que difere é a técnica , a velocidade de propogação destes transgênicos, e o volume com que são produzidos. Quem seria , em sã consciência, contra uma alface , como a produzida pela Embrapa, que tem 15 vezes mais ácido fólico que o normal, e que poderia ser empregada na alimentação , por exemplo, de gestantes no primeiro trimestre da gravidez, com um custo bem mais baixo que a medicação habitual? Ou contra uma batata com 33% a mais de proteínas , ou um tomate rico em vitamina A, ou a soja rica em ômega 3, com alta capacidade para ser incluída no tratamento e prevenção, por exemplo de coronariopatias, ou de doenças inflamatórias, como a artrite reumatóide ou as doenças inflamatórias intestinais? É o ápice do uso do conceito do alimento nutracêutico (um nutriente com efeitos farmacológicos – a aplicação dos nossos conhecimentos adquiridos no estudo da nutrição, para prevenir ou tratar doenças crônicas.
Neste item preferí transcrever a própria opinião da Embrapa : “A avaliação e o estabelecimento de métodos para o estudo de organismos geneticamente modificados (OGM) são de grande importância, uma vez que as ações voltadas à segurança ambiental devem procurar promover a preservação da biodiversidade, a manutenção dos ecossistemas e os respectivos padrões de sustentabilidade requeridos.Alguns dos possíveis efeitos adversos produzidos por um OGM são os danos diretos e indiretos sobre organismos benéficos, não-alvos da comunidade local, de importância econômica, ecológica e/ou social. Até a saúde humana pode ser diretamente afetada, mediante a ingestão de alimentos, alteração de infectividade e patogenicidade de microorganismos engenheirados, ou indiretamente, por alterações ambientais e da cadeia alimentar, através de um desbalanço nas populações de um determinado ecossistema.Existe a possibilidade da transferência não intencional de informações genéticas entre organismos. Os microorganismos, originalmente não patogênicos, poderiam se tornar patogênicos, ou ter sua amplitude de hospedeiros aumentada. Espécies diferentes de plantas, que tenham compatibilidade de cruzamento, poderiam gerar uma nova planta daninha. No caso das plantas resistentes a um herbicida, elas poderiam ainda se tornar pragas por resistência, quando este é utilizado repetidamente. Nas cultivares que expressam toxina do Baccilus thurigiensis, os insetos rapidamente criariam resiência, e a toxina gerada poderia ser incorporada ao meio ambiente, afetando o solo e o ecossistema aquático, uma vez que a atividade inseticida da toxina pode persistir por 40 dias ou mais.
Apesar da importância do estudo do impacto dos OGM sobre os organismos não-alvos, não se pode predizer, com exatidão, o comportamento desses organismos no campo, devido à complexidade de suas relações com o ambiente, enquanto as pressões seletivas do ambiente, muitas vezes, só podem ser determinadas em áreas de produção em larga escala. Portanto, o risco potencial à saúde pública e ambiental, a partir de uma liberação de OGM, seja intencional ou acidental, é objeto de múltiplas avaliações. Devem ser respondidas questões quanto à sobrevivência, disseminação, colonização e função da liberação desses organismos em habitats naturais, e também quanto aos aspectos socioeconômicos e problemas advindos da ausência de barreiras políticas ou fronteiras que restrinjam a disseminação do organismo.Quanto à harmonização de protocolos experimentais que quantifiquem o risco ambiental, ao menos na Comunidade Européia não há concordância quanto à melhor forma de como medi-lo. Contudo, eles propõem que a CE adote o princípio da avaliação em diferentes fases, as quais ainda não estão bem estabelecidas. A avaliação de cada planta deve ser estabelecida caso a caso, monitorando as preocupações quanto à biossegurança ambiental específica, sendo que o propósito e a função do novo gene incorporado deve ser levado em consideração no desenho do novo estudo.
Na avaliação de risco ambiental de novas práticas agrícolas, é igualmente preciso levar em consideração a saúde ambiental, uma vez que o ecossistema tem valor intrínseco, e cada um de nós é responsável por manter sua sustentabilidade. Assim, a melhor compreensão da interação entre organismos transgênicos e ecossistemas torna-se necessária, por parte da população e dos órgãos regulamentadores, para assegurar decisões que tenham eco na comunidade, no que tange ao ambiente.”
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