Tenho visto várias pessoas colocando no twitter e no facebook o link referente ao ‘aviso’ de Harvard sobre leite e derivados. Inclusive profissionais do ramo. Senti uma mistura de indignação com revolta. O título do link era ” Harvard: Laticínios não fazem parte de uma alimentação saudável”. Imagino que, uma pessoa leiga, já ia ficar com a pulga atrás da orelha. Imagina um (a) nutricionista!
Logicamente fui ler o que estava escrito, na íntegra.
Pra vocês entenderem melhor:
Tudo começou quando a USDA (departamento de agricultura Estadunidense) resolveu desbancar a velha pirâmide alimentar e aplicar uma nova forma didática de informar como devemos ter uma alimentação saudável – o “MyPlate” (já falado aqui). Harvard resolveu pegar no ponto fraco da USDA e montar o seu próprio ‘My Plate’ (você pode, se tiver conhecimento em inglês, ler sobre aqui ). Segundo a própria universidade, esse novo materal foi proposto porque ” infelizmente, assim como a velha pirâmide alimentar descrita pela USDA, o novo método, o MyPlate, mistura ciência com os interesses dos agricultores americanos poderosos, o que não é a receita para uma alimentação saudável. Já o nosso material, o Heatlhy Eating Plate – que numa tradução livre significa ‘O prato da alimentação saudável’ – é baseado nas melhores evidências científicas e dá aos consumidores a informação que eles precisam para fazer escolhas que vão afetar sua saúde e bem estar”
E dentro dessa confusão toda, Harvard colocou como diferencial do My Plate para o Healthy Eating Place a redução do consumo de produtos derivados do leite – e o próprio leite. Como eles mesmos escreveram “o alto consumo desses alimentos pode aumentar o risco de câncer de próstata e ovário”. Assim como “esses alimentos geralmente têm alto teor de gordura saturada. Alimentos como couve, acelga, leites de soja fortificados e feijões são fontes mais seguras de cálcio, já que tem menos quantidade de gordura saturada e uma boa quantidade de outras vitaminas e minerais”.
Primeiro motivo da minha revolta: Algumas pessoas não leram o artigo inteiro, apenas a manchete. Um absurdo, pois, após ler tudo você consegue captar a mensagem da universidade. Então simplesmente passaram a mensagem “TIREM LEITE E DERIVADOS DA SUA ALIMENTAÇÃO!”.
Segundo motivo da minha revolta: o excesso de cálcio SIM pode ter relações com câncer, mas isso não quer dizer que é fator causal. Alguns estudos já abordaram essa relação – depois faço um post sobre isso – mas não podemos excluir o leite da nossa alimentação, afinal, o câncer é um fator multifatorial e essa relação deve ser analisada detalhadamente.
Terceiro motivo da minha revolta: Harvard que me desculpe, mas não acho que essa foi a forma certa de abordagem. Sim, existem alternativas paralelas para o consumo de cálcio (que é essencial!) que podem ser usadas. Mas não há necessidade de EXCLUIR os derivados do leite, uma vez que não há um problema específico para essa abdicação. Isso porque o leite não tem só cálcio: ele tem outras propriedades importantes. É interessante procurar produtos desnatados – pois esses tem uma redução de gorduras, que, em excesso, podem causar o aumento do colesterol, por exemplo.
Quarto motivo da minha revolta: o estudo de Harvard com certeza foi direcionado para os padrões de vida americanos. Mas pensando na vida dos brasileiros e brasileiras, isso me preocupa muito. Hoje em dia, na prática clínica, posso afirmar que 8 entre 10 mulheres tem algum quadro de osteopenia ou osteoporose – muitas vezes precoce. Isso pela pouca exposição ao sol (isso causa um défcit no metabolismo da vitamina D, que atrapalha o metabolismo ósseo – falando de forma leiga); pela ingestão inadequada de cálcio (dietas malucas que incentivam a redução ou abnegação de alimentos derivados do leite e que contém glúten) e pela redução da prática de exercício físicos.
Qual a conclusão disso tudo? Não façam consultas via jornal/revista/reportagem de revista eletrônica e etc. Procurem um profissional (sério!) e filtrem mais as informações!!! Realmente algumas pessoas não toleram certos tipos de alimentos. Mas é importante lembrar que cada indivíduo tem uma particularidade!
Espero ter esclarecido essa ‘confusão’.
Abraços!
Até a próxima!!!
Muito bom, Marina!
Amei sua postagem. Em primeiro lugar, devemos filtrar sim, até pq sabemos exatamente o que os "Norte Americanos" pretendem. E em segundo lugar, nós temos profissionais excelentes aqui no Brasil que podem nos esclarecer sempre… esse negócio de acreditar em tudo que lemos na net, já era. E em terceiro, veja só o caso dos silicones, mais uma prova de que as verdades científicas são provisorias e que devemos ter cuidado.Obrigada pelo esclarecimento, pois adoro leite e seus derivados.Bj
AHHHAAAZOOOOOOOOOOOOO!!!!
Correto!Muito bem colocado.Parabéns
Amei amei amei. Faço das minhas palavras as suas! Harvard também publica artigos que podem não ser tao interessantes! Temos que ter leitura critica, especialmente profissionais da area!